A robótica e a programação, diferente do que muitos acreditam, vai muito além da matemática e das ciências. É possível aplicar práticas aprendidas com o pensamento computacional no ensino de artes, geografia e até mesmo ética e comportamento.
Um exemplo disso é o trabalho feito no Núcleo Educacional Bom Sucesso, de Balneário Camboriú. Em 2017 a escola, junto de outros núcleos da cidade, recebeu 3* unidades do RoPE, um tapete e um curso preparatório para uso do robô, fruto de uma parceria entre a Prefeitura de Balneário Camboriú e o Laboratório de Tecnologia na Educação da Univali. Em 2 anos com os robôs, a equipe da escola já desenvolveu cerca de 18 tapetes, integrando o RoPE em todas as disciplinas.
Ana Rosa, supervisora do NEI Bom Sucesso, conta que desde o primeiro ano a escola começou a desenvolver diferentes tapetes em conjunto com as professoras, que uniam o robô às disciplinas e conteúdos ensinados em sala de aula. Os tapetes, feitos de plástico vinil, tratam dos mais diversos assuntos: comportamento, geografia, matemática e até mesmo música.
Inicialmente, os robôs foram entregues para uso com alunos dos jardins I e II (4 a 6 anos de idade), porém logo conquistaram a escola toda e foram passados para os maternais. Alguns alunos têm contato com o robô e os conceitos de programação e lógica desde os anos iniciais.
Daniela Jaqueline Vieira, professora dos jardins, comenta sobre as vantagens de ensinar com o RoPE: “Com o RoPE eles aprendem brincando, né? Tem toda essa parte lúdica. Eles estão ali interagindo com o robozinho, então se torna mais prazeroso o aprendizado.” E não é só a professora que sente isso. Vinícius, de 6 anos, diz que aprender com o RoPE é “muito legal porquê ele faz o que a gente manda” e ainda explica os mecanismos do robô, indicando como usar os botões presentes no corpo do robozinho.
O planejamento das aulas também mudou, incluindo, agora, o uso do robô para a explicação e fixação de conteúdos ensinados. Ana Rosa conta que as professoras têm a iniciativa de solicitar novos tapetes que estejam de acordo com o assunto ensinado em sala, como aconteceu em maio, quando foi desenvolvido um tapete sobre regras de trânsito para ser trabalhado em sala ao falarem sobre o Maio Amarelo. A equipe pedagógica também desenvolveu tapetes e métodos de fixar conteúdos para eventos e apresentações para os pais, como no último Momento Cultural da escola, quando a professora Anita Braga, em parceria com as professoras Franciane Lucindo e Cynthia Alves, trabalharam um tapete musical com as crianças do maternal, que apresentaram as músicas escolhidas.
Shirley Machado, gestora da escola, diz que as crianças têm uma facilidade maior para fixar conteúdos e outros assuntos se ensinados pelas professoras com auxílio do RoPE. “Ao usar o RoPE no tapete de boas maneiras, por exemplo, a criança aprende melhor o que pode ou não fazer, diferente de só colar um cartaz na parede.” O uso constante também desenvolveu de forma efetiva o raciocínio lógico das crianças ao usarem o robô. “No começo eles programavam o botão para frente e davam o comando, agora eles programam para várias direções antes de confirmarem; ampliaram esse raciocínio, na cabecinha deles, de desenvolver um projeto, por exemplo” diz Ana Rosa.
Indo além do que é pedido pelas professoras, as próprias crianças são engajadas e se envolvem na produção dos tapetes, fazendo mais que apenas interagir e absorver o conteúdo. Shirley cita a “educação transformadora” ao contar como as crianças levam o que aprendem em sala de aula para a vida fora da escola, como, por exemplo, quando foram limpar as praias da barra após aprenderem sobre consciência ambiental com tapetes repletos de figuras pintadas pelas crianças, baseadas em experiências e conhecimentos pessoais. A professora Daniela exemplifica com o desenho de um barco feito por uma criança que decidiu pintar a figura porque seu pai tem um barco.
O entusiasmo das crianças ao brincar com o RoPE é visível, e é sempre possível perceber aqui e ali alunos se desafiando, indo além do que é pedido pelas professoras e se arriscando a programar sozinhos. Esses alunos, com o contato direto com conceitos de programação e lógica aplicada desde cedo em várias áreas, podem desenvolver uma afinidade e facilidade para, no futuro lidar com problemas e conteúdos mais complexos. Para Shirley, esses são resultados mais que positivos de um trabalho que vem acontecendo há tempos: “Sementinha plantada, fruto colhido” diz a gestora com orgulho.